Como praticar a comunicação não violenta
- Ana Paula Fischer
- 20 de jun. de 2024
- 3 min de leitura

A linguagem pode ser concebida como a maneira pela qual o sujeito se inscreve a partir do seu encontro com o outro. Conhecida como arte da escuta e ciência da linguagem, a Psicanálise passa a entender que o sujeito produz e transmite sentido. Como afirma Merleau-Ponty: " a palavra é o excesso da nossa existência sobre o ser natural". É aquilo que se revela sem excluir nosso lado primitivo.
Fruto de uma vida permeada por vivências de preconceito racial e suas manifestações de violência, o psicólogo norte-americano Marshall B. Rosenberg, criou técnicas para a aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais por meio da comunicação não violenta. A violência configura ao sujeito que a realiza um ideal de superioridade, condição de poder. A partir desta lógica, Rosenberg, entende que a violência, mecanismo de defesa inerente ao homem, permanece ocorrendo devido a uma falta de compreensão. Assim, o psicólogo traz a importância da comunicação não violenta como forma de "inculcar atitudes positivas em lugar das atitudes negativas que nos dominam". m síntese, evidencia-se como a violência se revela como uma forma limitada de expressão, impedindo a manifestação de uma comunicação horizontal e igualitária. Essa violência tornou-se uma repetição culturalmente aceita, onde não é concedido ao outro o espaço de respeito e escuta que lhe é digno. Para que esta violência não se perpetue, podemos explorar nosso lado compassivo, que também faz parte de nossa natureza humana. Como, então, podemos praticar a comunicação não violenta?
EVITE JULGAR OU CLASSIFICAR AS PESSOAS: Os rótulos são uma forma de incitar a violência nas relações, por provocar exclusões, punições e gerar comparações desnecessárias. Cada um age conforme lhe é possível e devemos respeitar a liberdade individual.
FAÇA BOM USO DA AUTO RESPONSABILIDADE: Quando colocamos nossos sentimentos, pensamentos e atos justificados por algo ou alguém, deixamos de construir instrumentos para lidar com os problemas que dos quais somos responsáveis. Para que a existência em sociedade seja possível e salutar, é necessário traçar limites daquilo que compete à nós e àquilo que compete ao outro.
"CONHECE-TE A TI MESMO": Conhecer aquilo que te angústia e aquilo que deseja é essencial. É o que nos dá energia rumo ao movimento, para escolher e existir em acordo com nossas particularidades. Conhecer a ti mesmo possibilita o processo de uma análise. Quando não nos aventuramos em nós, corremos o risco de viver à margem daquilo que poderíamos ser, em prol de uma sustentar uma imagem ou demandas alheias.
EVITE SE COLOCAR À PROVA DE QUALQUER DISCUSSÃO: A comunicação não violenta só pode ocorrer quando há no cenário vigente duas pessoas ou mais que se dispõem a comunicar. Se um não quer, dois não dialogam. Temos um monólogo, onde um só fala. Portanto, cabe observar se o outro se implica com o problema que se faz presente e atinge o comum. Caso não esteja implicado, você pode se tornar vítima da violência que este exerce sob você.
DESFRUTE DE INTERAÇÕES QUE PROMOVAM CONSTRUÇÃO E ENRIQUECIMENTO MÚTUO: A comunicação não violenta nos apresenta a importância do diálogo e sua intencionalidade. Sendo assim, somos convidados a repensar os laços que mantemos e a qualidade das trocas que são oferecidas. Aproxime-se de espaços que te acolham, te escutem e forneçam crescimento e construção.
"O mundo em que vivemos é aquilo que fazemos dele. Se hoje é impiedoso, foi porque nossas atitudes o tornaram assim. Se mudarmos a nós mesmos, poderemos mudar o mundo, e essa mudança começará por nossa linguagem e nossos métodos de comunicação"
(MARSHALL B. ROSENBERG)
Tendo ciência de que a linguagem também nos traz conteúdos inconscientes, devemos nos atentar a respeito da importância de um acompanhamento psicológico ou psicanalítico que nos forneça uma escuta ética e profissional acerca daquilo pertence à nossa dimensão subjetiva. Portanto, a comunicação não violenta não tem como alvo a mudança daquele no qual nos relacionamos. Ao oposto disso, traz a este a oportunidade de ser acolhido em lugar de igualdade. À nós, a responsabilização por aquilo que é nosso e a possibilidade de nos escutar perante ao que um outro nos oferece. É através da presença de um outro que temos acesso ao diferente. A comunicação não violenta nos ensina a captar diálogos salutares construção de novos saberes sobre si e o outro, visando uma melhor convivência no coletivo.
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